quarta-feira, 16 de abril de 2014

Práticas a ter em conta nas montagens VI

   Seguindo a mesma linha de montagens vou descrever o próximo caso.
   Segue desenho elucidativo.

     Este é um grupo de bombas centrifugas com motores coplados em uma mesma mesa,ou cadeira nº 3.
   Este grupo já vinha montado de fábrica.portanto era só marcar as linhas de referência,marcar a furação furar e fixa-la ao fixe nº 4.
   Com um equipamento de elevação que neste caso foi um Manitu,que é um montacargas com pequena lança telescópica com capacidade bastante boa,depois de marcado o centro nos fixes ou plataformas foram colocadas no sitio e marcados os furos para serem rufados a seguir.
   Foram retirados os grupos e colocados perto para serem montados definitivamente,mas não foi assim.
   Quando marcaram os furos com um marcador de bico de feltro deviam de ter marcado como mostra a figura em baixo.
   Estas perpendiculares são feitas exactamente para se verificar se houve desvios na furação,certamente que não o fizeram,e creio que tampouco fizeram um furo com uma broca mais fina.
   Resultado quando foram colocar os grupos no seu sitio,as furações não quadravam. 
   Creio também que trocaram a posição dos grupos, ou seja o grupo da direita foi para a esquerda e vice versa.
   Verificou-se também que as furações nas mesas não estavam todas iguais,mas se tivessem feito as linhas de referência isso não tinha acontecido,falta de conhecimentos e atenção.
   Tiveram que colocar de novo os grupos no seu sitio marcar as diferenças na estrutura ou mesa,voltar a retirar os grupos,rasgar os furos,depois voltar a colocar os grupos no lugar,houve mesmo um chumbador que teve de ser substituído,tudo uma perda de tempo.
   Menos mal que os grupos eram iguais se não seria muito pior.
   Mais uma vez chamo a atenção para a importância das linhas de referência, nas montagens sejam elas quais forem simples ou complicadas.
   O próximo trabalho seria montar quarto grupos de bombas/motores,duas grandes e duas pequenas,directamente ao piso.
   A ordem conforme o desenho era da esquerda para a direita,uma bomba grande seguida de uma pequena e logo uma pequena e a seguir a outra grande.
   Neste caso as medidas de referência não eram iguais,portanto muita atenção na marcação das linhas de referência em relação ao desenho.
   Marcadas as linhas foram colocadas os grupos para se marcar a furação,foram marcadas com marcador de bico de feltro e em seguida retirados os grupos.
   Fizeram as furações.
   De novo não marcaram as perpendiculares para referencia dos furos depois da furação ,para agravar a situação colocaram uns chumbadores químicos mais grossos e mais compridos de que os pedidos no desenho e agarraram cavilhas das bem grossas que foi um problema para se furar,quase todos os furos se desviaram bastante.
   Mais tarde veio um supervisor da empresa mãe que por acaso era uma engenheiro portuguesa,e deu-se conta de que os grupos estavam mal colocados,barraca.
   A ordem que eles tinham colocado os grupos estava ao contrário,não sei como o fizeram,mas tiveram que
retirar os grupos e mudar as posições para se fazer de novo as furacões.
   Alguns furos por azar coincidiam meio furo com os anteriores já podem calcular o problema que se criou.
   Estes trabalhos se acontecessem quando eu era um jovem oficial de montagens em Portugal,nunca mais eu  ia ter trabalho depois de estas barracadas..
    Não sei como é que uma empresa pode aguentar tanto prejuízo,nem sei  que raio de chefe era o responsável destes trabalhos, para permitir tanto erro, talvez por serem do mesmo país.
   Quando quis regressar a portugal nesse preciso momento uma ordem superior suspendia os trabalhos devido a que os pagamentos à empresa que eram feitos de três em três meses passavam a ser feitos a 90 dias,portanto a empresa não tinha condições de aguentar essa mudança.
  Regressei a Portugal.
  Casos de montagem existem moles diferentes,mas os princípios são sempre os mesmos
   Antes de avançar com outras situações quero deixar uma chamada de atenção que é o seguinte.
   Para quem ainda não tem ,compre ou veja se lhe oferecem uma agenda de bolso daquelas que têm os dias e as semanas os meses,para que esta vos sirva para apontamentos necessários para o dia a dia.
   Ainda hoje tenho e já não é a primeira,esta de de 1970,a outra que eu tinha foi à lavadora e já vêm como deve ter ficado.

 Vejam como está velhinha,já esta como eu,também já estou velho,mas esta serviu-me bastante pois tem nela apontamentos muito úteis,e é muito prática porque podes guarda-la no bolso do fato de trabalho.
   Isto evita andar por exemplo com o livro dentro da caixa de ferramenta.
    O livro que todos deveriam ter que é o mais conhecido por CASILLAS, Maquinas formulário técnico que é muito completo.




   Hoje com a Internet conseguem-se muitas informações e até cursos de várias especialidades.
   Quando estive em França a trabalhar também aconteceu um problema,que muitas vezes me pergunto se de facto estas coisas acontecem por falta de conhecimentos ou por distracção.
   Ás vezes a pressa é tanta em concorrer para se conseguir os trabalhos, que por parte dos cabecilhas das empresas esquecem que uma pessoa é humana e portanto erra.
   Neste caso ou a empresa encarregue de fazer o piso e os fixes, não tinha conhecimento das maquinas que iam ser montadas ou houve mesmo uma negligência muito grande por parte do gabinete técnico.
   Me explico,esta é uma empresa de fabricar pasta de papel, que necessitou fazer um aumento de produção implementando novos equipamentos, portanto novas montagens de maquinas.
   Para que percebam melhor o que passou vou juntar um pequeno desenho.
 





















 Aqui vai .
    A maquina trituradora pesava 15 tons, o redutor de velocidade 5 tons e o rotor 8 tons e eram 5 grupos de maquinas iguais, claro cada maquina tinha o seu grupo de trabalhadores correspondente.
   Eu era a pessoa encarregada dos trabalhos de uma dessas maquinas,quando chegamos ao local de trabalho e foi-nos dito os trabalhos a realizar as maquinas já estavam colocadas em cima dos fixes de concreto e fomos começar a montagem propriamente dita.
   Surpresa,não havia ferramenta para se trabalhar e creiam que isto não é mentira, mas parece.
   Também estou a mentir um pouco,sim havia ferramenta uma caixa com meia dúzia de chaves velhas,um martelo e uma cinta métrica, que ao igual que a caixa de ferramentas servia para as cinco equipas de trabalho,chamei a atenção do responsável directo e disse-lhe se não havia mais ferramentas,a resposta foi desenrasque-se, aí já fiquei a pensar no que ia ser aquele trabalho.
   Vou resumir bastante porque esta conversa dava para fazer um livro de anedotas.
   Depois de falar com a empresa de portugal que me contratou e de contar o que se estava a passar, eles falaram com a empresa responsável pelos trabalhos e lá começou a chegar algumas ferramentas,que mesmo assim muitas das vezes tínhamos que estar à espera uns dos outros.
   Voltando aos trabalhos verifiquei que nos veios da trituradora estava colocada a flange do acoplamento,mas não estava colocada totalmente,faltava uns 6 cms para chegar à face. 
   Chamei o responsável,que já me olhou com cara de poucos amigos,e perguntei que tinha passado com aquele trabalho,não me explicou nada disse havia que colocar a flange como deve ser.
   Entretanto notei que o furo da flange estava com umas tremendas pancadas feitas com um malho pesado, que fizeram uma mossas bastante grandes,entretanto foi chegando algumas ferramentas depois de eu ter falado com o director da obra, que era um engenheiro espanhol e expus a situação.
    De Portugal também falaram com ele e assim começou a chegar ferramenta.
   Soube mais tarde por um espanhol que quem tinha feito aquele trabalho,tinha sido o meu  responsável directo,meteu as flanges à marretada e fez aquele lindo serviço.
   Soube também que ele esteve mesmo com os pés na rua por causa desse trabalho.
   A atenção para este ponto,as maquinas quando vêm das fabricas quando não trazem as flanges montadas, cada flange vem juntamente com as maquinas e devidamente identificadas, por que as tolerãncias dos furos com os veios não podem ser trocadas,e creio que foi o que passou.
   Foi-me dito que não se podia dar calor nas flanges para se poder retirar a flange,conseguimos umas barras roscadas de 25 mm temperadas e com a ajuda de um macaco hidráulico tentamos retirar a flange.
   Estava tão apertada que se partiram as barras roscadas e não saiu a flange.
   Verifiquei que o furo da flange não estava em condições, não estava redondo, tive de com a ajuda de um paquímetro, porque micrómetro de interiores nem pensar, e uma rectificadora horizontal, levar o furo à medida,depois com a supervisão dos franceses decidiram dar calor e levar a flange ao seu lugar.
   Nova fase dos trabalhos alinhar as maquinas.
   Primeiro colocar a trituradora na altura que mandava o desenho,e com um nível óptico nivelei a maquina em altura nos quatro pontos, claro que para usar o nível óptico tive que esperar mais umas horas.
  Havia que colocar calços por debaixo da maquina e não havia como levanta-la,havia um macaco hidráulico que não funcionava bem e como as demais ferramentas, tínhamos que estar esperando que um terminasse para os outros poderem usar o dito macaco.
   Fomos fazendo o trabalho e chegou a altura de usar os relógios comparadores o mesmo problema à espera para se poder usar,quando já estava quase o alinhamento feito, dei-me conta da junta de dilatação assinalada no desenho com o número 9 que ficava entre a trituradora e o redutor, e pensei porque seria que  a maquina nunca mais estava alinhada.
   De manhã estavam quase bem, à tarde fazia uma diferença demasiado grande e cheguei à conclusão que era por causa da dilatação entre os dois blocos do piso.
   A dilatação do concreto armado quando exposto ao calor é bastante considerável e o problema era esse, chamei a atenção do meu responsável directo e ele disse que não podia ser.         
   Quando o supervisor Francês apareceu, falei-lhe no assunto, ele pensou um pouco e em seguida falou-me que se iria deixar uma tolerância intermédia entre a da manhã e a da tarde,o que eu concordei plenamente, e assim terminamos de alinhar as maquinas.
   Novo trabalho com o mesmo responsável directo, o homem já nem aparecia ao pé de mim.
   O novo trabalho consistia em montar um grupo de bomba motor pré montado em fábrica num local que ele me mostrou,era de muito difícil acesso.
   Uma particularidade que tinha esse grupo é que vinha montado encima de uma plataforma de concreto armado, eu desconhecia tal coisa, tinha umas patas de nivelação,o comprimento era de 5 metros, por 2 de largura por 200 mm de espessura, não era muito fácil de manejar, mas se tivesse-mos os equipamentos de elevação adequados não seria tão difícil.
   Quis falar com o meu responsável directo e perdi mais de uma hora para o encontrar,por fim chegou o senhor e ao propor-lhe o assunto ele disse-me muito calmamente isso é fácil você arranja um porta paletes coloca o equipamento encima e já está,muito fácil sim senhor mas venha ver o caminho de acesso onde vai ser montado o grupo o homem olhou e disse com um montacargas pode-se fazer o trabalho,e eu perguntei-lhe onde está o montacargas não temos ferramenta para trabalhar muito menos um montacargas,o homem olhou para mim e disse,vá aí pela fabrica e veja se consegue quem lhe empreste um.
   Na verdade um senhor Francês muito amável disse-me se você quiser esperar quando eu termine o que estou a fazer eu empresto-lhe o montacargas.
   Já havia passado duas horas quando a o senhor me emprestou o montacargas,mas já era muito perto da hora de saída e não adiantou nada,no outro dia o senhor já precisou do montacargas. 
   Por esta altura eu já tinha falado com Portugal umas dez vezes e na ultima pedi para regressar a Portugal.
   Entretanto no outro dia de manhã começamos por conseguir um tirfor ou guincho de alavanca,segue foto. 
     Um dos mecânicos foi conseguir uns tubos,o que me custou duas horas de espera,mas por fim conseguiu.
   Com tubos e à maneira dos Egípcios levamos o grupo para o seu sitio, o responsável directo nunca mais apareceu,só quando eu me fui embora,e fui comunicar ao director do estaleiro é que o senhor se dignou aparecer.
   Eu nem queria acreditar no que me aconteceu,pois nunca na minha vida de profissional me tinha passado algo assim nem parecido.
   Nestas vezes que fui trabalhar no estrangeiro não pensei que tal me sucedera
   Eu pensei que ia aprender mais alguma coisa mas infelizmente consegui exactamente o contrário.   



 Eu creio que foi uma temporada de má sorte na minha vida de profissional,porque é quase impossível de acreditar,ainda hoje passados seis anos não quero acreditar que isto me passou.
   Portanto companheiros quando tenham uma oportunidade de ir trabalhar no estrangeiro certifiquem-se de que vão trabalhar para uma empresa fiável não umas fantasmas que só querem ganhar dinheiro à nossa custa.
   Desculpem este desabafo,sigam progredindo profissionalmente e como pessoas.
   Boa semana. 


                                          MÁRIO SILVA



























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